Por muitas razões,
os "rumores" que nascem na América do Sul têm
uma vida longa. Um deles é certamente a lembrança
de antigas civilizações, das quais existiriam realmente
certos centros ainda não descobertos. Outro deve-se ao
fato de que existem ainda grandes territórios inexplorados,
na selva amazônica. Enfim, outro decorre do hábito
que têm certas tribos da Amazônia de gravar desenhos
simbólicos em seixos. São representações
rudimentares de peixes, lagartos, insetos, mortais, "mapas"
que representam uma seção de um rio vizinho, etc.
Nicolas
Horstman, um médico alemão, foi sem dúvida
o primeiro a assinalá-los por tê-los visto gravados
em um rochedo ao longo do rio Rupumini,
em 1739. Mais tarde, em 1852, o grande botânico
inglês Richard Spruce
encontrou grande quantidade deles no rio Uaupés
ou rio Vaupés, uma
das fontes do rio Negro. Anotou-os
e iniciou deste modo o ramo de antropologia consagrado ao estudo
desses testemunhos da cultura das tribos amazônicas. Thedore
Roosevelt encontrou também esses hieróglifos
nas proximidades do rio Dúvida
em 1913 (na maioria, círculos que contornavam um
W de cabeça para baixo).
Certo estudioso francês, Apollinaire
Frot, entre seus períodos de exploração
nas florestas brasileiras, não parava de aludir a cidades
soterradas na selva, inscrições misteriosas em línguas
extintas. Escreveu pois a Braghine,
o Atlantista: "Os resultados de minhas
pesquisas são tão emocionantes que temo publicá-los!"
Infelizmente, Frot morreu
ao fim da segunda guerra mundial levando suas histórias
para a sepultura.
Vejamos o que existe
nesta região da América do Sul, formada pelo estado
de Mato Grosso. A região compõe-se principalmente
do pantanal ou bacia do rio Paraguai
e seus afluentes. É uma planície cortada de placas
circulares de florestas muito densas chamadas capões. Quando
os rios estão cheios, inundam as partes baixas da planície
enquanto que os capões, pouco elevados, formam como que
ilhas. Esta é a razão por que as árvores
alí podem crescer mas não mais em baixo, na planície.
A região apresenta fauna abundante mas de estatura reduzida:
jaguarés, que têm estatura de pequenos leões,
tapires, gamos, lontras gigantes, cães selvagens, etc.
Alguns quilômetros ao norte de Cuiabá, encontram-se
os montes Parecis, pouco elevados,
que separam as bacias do Paraguai
e do Amazonas. Ao norte dessas
montanhas correm os principais afluentes sul do Amazonas
que, no mapa, parecem pequenos ramos ligados a um ramo principal.
Toda a região é quase inabitada, exceto pelos índios
que alí vivem: Apinajés, Arauaques, Aravines, Bacairis,
Calapalos, Caiapós, Camaiurás, Carajás, Xavantes,
Jurunas, Nhambiquaras, Suiás, e outros que quase todo o
mundo ignora e que formam tribos de algumas centenas de indivíduos.
Em geral, a boa vontade
dos índios para com os brancos está em proporção
inversa de contato que puderam ter com os Caraíbas (não
índios). Costuma-se dizer que os ferozes xavantes tornaram-se
assim por terem sido reduzidos à escravidão pelos
primeiros espanhóis desejosos de ouro que tinham explorado
suas minas.
Em 1743, seis
portugueses acompanhados de uma dúzia de negros escravos
e de um séquito de índios partiram de Minas Geraisna
direção do interior para situar certas ruínas
fabulosas de que não se sabia a localização
exata no mapa, já que seu proprietário morrera assassinado
em 1622. Essas pessoas enviaram uma mensagem por intermédio
de um indígena ao governador-geral estabelecido na Bahia,
pelo qual declaravam ter notado no planalto central as ruínas
de uma cidade imensa construída com enormes blocos de pedra.
Tinham também visto dois índios brancos. 0 relato
continha mesmo a relação dos hieróglifos
que tinham visto gravados nas pedras.
Essa foi a primeira
e a última mensagem enviada por aquela expedição
que foi seguida, 100 anos mais tarde, por uma exploração
infeliz organizada pelo governo brasileiro. Depois disto, sucessivamente,
por volta de 1900 houve a procura de uma cidade perdida,
no Mato Grosso, pelos Krupp von
Essen, que organizaram uma grande expedição
com animais, guias indígenas etc. Essa tentativa, só
esclareceu aos organizadores que os índios desaparecem
ou mandam flechas envenenadas logo que o europeu se aproxima,
que os animais não resistem ao clima dessas regiões
e que o homem, com seus próprios meios, não pode
ir muito mais longe do que os animais.
Em 1913, nova
tentativa foi empreendida pelo presidente americano Teodore
Roosevelt que, acompanhado do general Cândido
Mariano da Silva Rondon desceu o rio Dúvida
para precisar seu curso. Essa viagem de 900 milhas na floresta,
com provações, doenças e perigos habituais,
só deu ao presidente a honra de ver o rio Dúvida
ser novamente batizado pelo governo brasileiro com o nome de rio
Roosevelt.
Depois, em 1925,
houve a expedição de Fawcett
que se pode considerar como o acontecimento culminante de todas
as explorações, tendo atraído a atenção
para as cidades perdidas e as terras desconhecidas da América
do Sul.
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