0 coronel
Percy Harrisson Fawcett, era um oficial da artilharia
britânica que andava pelos sessenta anos. Tendo servido
em Ceilão, Malta, Hong Kong, seu governador enviou-o, em
1906, para que executasse trabalhos topográficos
a fim de estabelecer a fronteira entre o Peru e a Bolívia
Ao terminar tais trabalhos, pediu demissão do exército
e consagrou-se à exploração das solidões
brasileiras.
A julgar pelo que
foi escrito sobre o caráter de Fawcett,
deve ter sido um homem dotado de grande energia física,
de uma coragem extrema, de um dinamismo intenso. Mas devia também
ser brusco, ardente, impaciente e inclinado a mostrar-se a favor
dos "nativos". Na juventude, manifestara alguma curiosidade
pela arqueologia e tornara-se em seguida um dos devotos do culto
da Atlântida. Mais tarde, ouvindo os Korafas
da América do Sul, adquiriu a convicção de
que a cidade perdida da expedição de 1743,
seria a Atlântida ou uma de suas colônias longínquas,
e deveria situar-se a nordeste do Mato Grosso, entre o curso superior
do Xingu e a região do rio Araguaia.
Nos mapas da época,
essa região é ocupada pela Serra
do Roncador. Em uma carta endereçada à
Royal Geographical Society de Londres, aludia a uma raça
indígena que tinha a reputação de ser composta
de indivíduos de pele branca, cabelos ruivos e olhos azuis.
Esses desconhecidos chamavam-se Morcegos ou "baratas"
por causa de suas roupas escuras.
Acrescentava ainda:
"é possível que essas
coisas estranhas fiquem escondidas nas florestas da bacia amazônica.
Correm boatos a respeito de antigas ruínas, estranhos animais,
vias imensas nunca encontradas. É verdade que as lendas
nascem ao redor das regiões inexploradas, mas não
nos esqueçamos de que o pigmeu africano foi considerado
imaginário durante muito tempo."
Após uma primeira
tentativa de exploração em 1919, que não
deu resultados por causa das inundações e do abandono
de seus companheiros brasileiros, Fawcett
seguiu novamente em 1924. Desta vez, obtivera a ajuda da
Royal Geographical Society com a missão de traçar
o mapa das regiões desconhecidas nas imediações
dos rios Paramantinga e Tapajós, assim como
de procurar outros objetos mais atraentes que, segundo ele, devia
haver no Mato Grosso. Certos brasileiros imaginaram que procuraria
a mina de ouro dos Martírios, abandonada há
duzentos anos, quando seus descobridores portugueses foram assassinados
por escravos índios.
Fawcett
estava acompanhado por um de seus filhos, Jack,
e por um amigo deste, um jovem fotógrafo chamado Raleigh
Rimell. Fawcett achava que a melhor organização
era ainda, em matéria de exploração, os grupos
restritos e pouco carregados que avançavam rapidamente.
Dirigiram-se para
o nordeste de Cuiabá na direção da
bacia do Xingu. Fawcett
fora voluntariamente impreciso quanto ao destino dessa viagem,
como prova a carta que escreveu a seu amigo Ahrens
em Cuiabá:
"Não
lhe digo a finalidade de minha viagem, porque não desejo
ser a causa de algum drama, isto é de uma expedição
inspirada na nossa, porque se há de imaginar que é
uma empresa fácil."
Fawcett
alcançou o posto militar de Bacairi, onde Rimell
machucou o pé, depois embrenhou-se nas regiões selvagens.
Do campo do Cavalo Morto, 80 quilômetros a nordeste de Bacairi,
mandou de volta as mulas e seus dois "camaradas" peruanos
que se tinham revelado pouco dotados para a exploração.
Por meio de seus seguidores brasileiros, enviou outra carta a
Ahrens onde dizia:
"Não
espere receber outras notícias; é possível
que as envie, mas nossas recentes dificuldades com os índios
tornam a coisa pouco provável. É arriscado, é
preciso dizê-lo, e poderíamos morrer."
Depois prosseguiu
com os três índios bacairis. No rio Cuiseu,
encontrou duas canoas indígenas escondidas em um ancoradouro
por seus proprietários. Fawcett
delas se apropriou e, tendo embarcado, continuou a descer o curso
do rio até que chegou à cidade de Anauá.
Lá, mandou de volta as canoas pelos três Índios
bacairis. No caminho os índios encontraram os proprietários
das canoas, furiosos pela falta de educação de Fawcett
para com êles. Depois disso Fawcett
continuou viagem para este, na direção do rio Culuene
(afluente do Xingu) e desapareceu.
Não tendo
recebido mais nenhum sinal de vida do intrépido pesquisador
e esse silêncio durante tantos meses, seus amigos puseram-se
à sua procura. Em 1927, um engenheiro, de Courville,
declarou que encontrara na selva um misterioso homem branco barbado
que identificava como Fawcett.
Por sua vez, os médiuns anunciaram que Fawcett
estava prisioneiro dos indígenas e que haviam feito dele
um deus. Finalmente, uma expedição de socorro foi
organizada em 1928 por um oficial de marinha britânica,
o comandante George Miller Dyott,
que também explorara a América do Sul.
Dyott,
acompanhado por quatro jovens americanos, seguiu o traçado
de Fawcett a pé até
Anauá a este da direção do Culuene,
depois seguiu o curso desse rio. Os índios reconheceram
que Fawcett e seus companheiros
tinham sido assassinados, mas cada tribo rejeitava a responsabilidade
desse crime: os Calapalos
acusavam os Arauaques e estes
jogavam a culpa nos Suiás.
Um índio Arauá
acusou Aloique, o chefe dos
Aratiaquês - ou pelo
menos Dyott, que só
se entendia com os índios por meio de algumas palavras
reforçadas por gestos, imaginou compreendê-lo. Dyott
viu aliás na caverna de Aloique
uma valise que reconheceu como sendo a de Fawcett
e viu também, amarrada no pescoço de um dos filhos
de Aloique, uma placa de cobre
trazendo o nome da firma W. S. Silver & CO, London, que fornecera
o equipamento de Fawcett.
Dyott
concluiu então que Aloique
era o assassino de Fawcett,
mas sem outra prova a não ser a atitude do chefe. Em seguida,
este, tentado pela promessa de um presente, prometeu a Dyott
mostrar-lhe o lugar onde Fawcett
fora enterrado, mas mudou de opinião e desapareceu na selva.
A falta de víveres de Dyott
não lhe permitiu prosseguir suas buscas. Tomou o caminho
de volta, não sem ter tido alguns encontros desagradáveis
com outros índios.
0 resultado dessa
expedição deveria ter encerrado o caso, mas boatos
escapavam sempre da floresta brasileira. Fawcett
estava vivo, e tinha mesmo um filho com uma mulher índia
e a Sra. Fawcett, sua viúva, pretendia corresponder-se
com ele telepaticamente. Rumores e pesquisas continuaram durante
uns dez anos.
Finalmente, em 1951,
a resposta escapou enfim do Mato Grosso. O sertanista brasileiro,
Orlando Vilas Boas, tendo
questionado pacientemente os Calapalos
durante cinco anos, persuadiu-os com a promessa de que "não
haveria vingança" se relatassem o que se passara realmente.
Fawcett
era culpado, a seus olhos, de não ter dado os presentes
que prometera, depois ferira um índio chamado Cavicuiri.
Desse modo, os Calapalos massacraram
os três brancos com golpes em um ponto situado entre o Culuene
e o Rio das Mortes, afluente do Araguaia, mais a
este. Cavicuiri espreitara
Fawcett enquanto outros índios
afastavam os dois jovens que tinham ficado um pouco atrás.
Haviam jogado os corpos dos últimos em um lago, mas enterraram
Fawcett com cerimônia,
considerando-o como um chefe, colocando junto dele a arma com
que tentara defender-se. Komatzi,
o novo chefe Calapalo, levou
Vilas Boas ao seu túmulo
e ordenou a seus homens que desenterrassem os ossos e a arma do
explorador desaparecido.
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