A despedida

Que doce ironia. O temporal que desabou no funeral trouxe justamente as lágrimas que nenhum dos poucos presentes deixava escorrer. Apesar da vontade, eu sabia muito bem a distância que deveria manter... O caixão abraçava Laura com um cuidado que eu queria tanto ter dado. Naquele armazém. Naqueles momentos finais. Ao lado do padre e do coveiro estava Siltra e dois familiares distantes que vieram fazer a representação oficial. Aquela típica cerimônia encharcada de indiferença e propósitos velados. Finalizada a preleção, enquanto o esquife de Laura baixava à sepultura, Siltra se afastou [link para a vertente detetive] não sem antes vasculhar seu redor. Provavelmente à minha procura. Meu coração pulsava com dificuldade. Entre batimentos, ele engasgava com o gosto amargo do arrependimento. Só consegui recobrar meus sentidos quando vi todos se afastaram. Nenhuma alma mais para dar adeus em vão à Laura, então coube a mim me despedir de coração e pensamento. Foi somente quando consegui dar as costas para Laura [link para a vertente narrador]. Mal me afastei e reparei no leve farfalhar de árvores próximas. Olhei pra trás com a sensação de que um vulto havia trocado de posição [link para a vertente assassino], mas a dor havia me cegado. Com medo, botei a culpa no vento. Ledo engano.