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Onde o vento faz a curva

Considerações aleatórias de um Game Designer sobre o BIG festival.

Renato Degiovani07-2017

Desde sua primeira edição, em 2013, duas características do BIG ficaram bem delineadas: a primeira - é um evento de "negócios" e a segunda - é uma oportunidade para mostrar aos jovens desenvolvedores brasileiros o que há de melhor na produção indie mundial, com o propósito de inserir os pretendentes da brasilândia no mercado global.

Não há muito o que considerar sobre a parte business até porque ela não reverte em resultados visíveis imediatos e cada caso é literalmente um caso. Durante os trabalhos e conversas há muito de promessas, otimismo e eventualmente alguns negócios fechados. O que falta hoje é um balanço que demonstre aquilo que, em termos de evolução comercial, de fato derivou diretamente dessas rodadas de investimento. Onde estão os filhotes dos festivais passados? O que realmente aconteceu com eles de positivo e/ou negativo?

Quanto às palestras, elas refletem o lado comercial do evento, como não poderia deixar de ser, afinal o BIG não é e nunca se propôs a ser um SBGames. Mesmo assim, o debate sobre experimentação comercial fez falta na lista de palestras, afinal, não existe apenas um modelo e um jeito de obter sucesso nos games. Principalmente numa terra tão cheia de contrastes como a nossa e num mercado global que está em plena ebulição. Preconceitos e pruridos politicamente corretos não cabem no mundo dos negócios.

...há de fato uma evolução técnica na produção nacional?.

A parte visível e destacada do festival, que atrai os principais holofotes da grande mídia é realmente a mostra de games e o concurso internacional, onde não faltou a presença nacional, como prova de que estamos na direção certa.

Mas a pergunta tostines que ficou do BIG 2017 é estamos tendo uma evolução técnica nos games nacionais porque a produção nacional tem de fato evoluído e está se equiparando aos estrangeiros ou os estrangeiros que vieram este ano ao BIG não estavam tão dentro daquilo que o próprio BIG prega como "os melhores indies do mundo"?

Em 2016, no BIG anterior, a seleção internacional contemplou de fato jogos estrangeiros de altíssima qualidade, beleza e inovação. Este ano ficou a impressão que a mostra estava mais homogênea (morna) e não era apenas por conta dos títulos em inglês de praticamente todos os jogos. Apesar disso, chamou a atenção um game todo em português, de uma produtora russa, o que por si só já demonstra dois excelentes temas para debate: indies estrangeiros estão de olho em nosso mercado e localização, afinal de contas, não é um bicho de sete cabeças (nem desculpa).

Fica a dica.

Em tempo: na sexta feira, alunos de escolas do primeiro grau formavam filas para entrar na mostra de games e ver o que o mundo indie está oferecendo de novidade a essas jovens mentes. Seria o caso, talvez, quem sabe, de aproveitar o momento para estabelecer links culturais verde amarelo mais nítidos com essa galera, afinal de contas o local onde o BIG acontece todo ano transborda muito mais cultura que negócios.

:: Link para o site do BIG festival

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Renato Degiovani é game designer e produtor de jogos desde o começo da década de 80. Foi editor da revista Micro Sistemas e produz o site TILT online desde 1997.