Desde
quando o mundo é mundo que o homem busca na diversão
e no entretenimento uma forma de fugir das agruras do cotidiano.
É praticamente irresistível não recorrer
a uma imagem, um tanto quanto "poética", de meia
dúzia de pessoas dentro de uma caverna, ao redor de uma
fogueira tendo o seguinte diálogo:
"-
Muito bem, caçamos diversos coelhos e veados e estamos
abastecidos de alimentos por uns dias, afugentamos o bando rival,
que tanto nos importunava e já organizamos as tarefas de
manutenção da caverna, aumentando nosso estoque
de lenha. Portanto, temos algum tempo livre para nos divertir.
Proponho brincarmos de caça ao mastodonte, já que
nunca conseguimos mesmo pegar um."
É
claro que tal raciocínio exigiria um contexto específico,
onde os mecanismos de comunicação já tivessem
um grau de aperfeiçoamento que é sem dúvida
bem mais recente que o "tempo das cavernas". Também
exigiria uma estrutura social bastante elaborada e mentes aguçadas,
para detectar naquela brincadeira uma forma de aprendizado. Porém,
mesmo que fictícia a imagem, quem sabe nosso homem das
cavernas já não tivesse consciência de que
poderiam, brincando, descobrir pontos fracos do seu velho rival.
Mais ainda: poderiam criar, elaborar e testar técnicas
de caça bem mais sofisticadas do que aquelas que estavam
usando até então, visto que ainda não tinham
logrado sucesso.
Será
que isso funcionaria na prática? Bem, os tais cérebros
evoluídos e as estruturas sociais complexas já existem
há um bocado de tempo. A eficiência de tal método
não está portanto nas capacidades intelectuais de
nossos semelhantes, mas na diversidade e na riqueza de detalhes
da simulação. Sim, é disso que estamos falando:
testar a realidade num ambiente totalmente controlado.
Os
homens modernos fazem isso há bastante tempo, principalmente
quando os riscos envolvidos na ação real não
podem ser desprezados. Por exemplo? Por exemplo na aviação
comercial e principalmente militar. Os pilotos militares passam
bastante tempo "jogando" simuladores de vôo e
"brincando" de combates aéreos. Mas fazem isso
não apenas por que seria uma perda irreparável a
morte acidental de um piloto, ou porque os custos envolvidos na
simulação seriam menores que na vida real. O fazem
porque na simulação recriam-se realidades diversas
e totalmente controláveis. Possibilidades infinitas, para
ser mais exato.
A
popularização do computador pessoal e seu impressionante
crescimento, em termos de recursos e possibilidades técnicas,
trouxe-nos mais perto desta facilidade. Hoje podemos simular inúmeras
realidades, sem sair de casa. Os jogos são exatamente isso,
onde ao jogador é apresentada uma situação
na qual precisa resolver certos problemas. Sim, normalmente matar
e sair correndo, mas não podemos simplesmente rotular os
jogos de divertimento de adolescentes apenas por uma de suas características
(e nem mesmo a mais importante delas).
Há
que se entender que os jogos e os simuladores são na verdade
ferramentas excelentes, que podemos usar para o desenvolvimento
de novas técnicas, novos procedimentos e principalmente
novos comportamentos. Quanto mais séria e próxima
do real for feita a abordagem da realidade a ser apresentada,
tanto mais eficiente será a interação do
jogador.
Ao
apresentar situações pertinentes ao nosso universo
e elaboradamente convincentes, tendemos a aceitá-las como
parte da realidade. E se o jogador aceita-a como realidade, irá
se comportar como se de fato vivenciasse tal situação
ou experiência.
Todos
nós sabemos, por observação direta, que instrumentos
mais tradicionais de comunicação, como livros e
revistas, estão perdendo espaço junto aos "usuários"
para estruturas e metodologias mais dinâmicas e mais sensoriais
(com ênfase na visão), Os jogos e simuladores, graças
às suas características de comunicação,
podem estar num patamar acima até mesmo da televisão,
pois sua mecânica funcional permite uma interação
total por parte do usuário.
Podemos
extrapolar esse raciocínio para inúmeras atividades,
que vão desde o aprendizado científico, nas escolas,
até as simulações específicas dentro
das empresas. Mas existe ainda um outro aspecto importante no
uso dos jogos como instrumento de ensino e simulação:
a difusão cultural das sociedades organizadas. Podemos
aprender não apenas técnicas e conhecimentos científicos
com os jogos, mas principalmente podemos adquirir e aperfeiçoar
noções sociais e comportamentais diversas.
Brincando,
podemos subir degraus na escada evolutiva e quem sabe, mais cedo
do que imaginamos, estaremos acuando e vencendo o mastodonte próprio
de cada época.
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