Não
se pode negar que os jogos de computador exercem um tremendo fascínio
sobre os jovens e sobre os não tão jovens também.
O desafio de conquistar mundos, povos, desvendar mistérios
intrincados, salvar nosso amado planeta das hordas bárbaras
de alienígenas monstruosos ou simplesmente passar horas
tentando solucionar um arranjo racional de cartas de baralho é
irresistível para qualquer ser humano dotado de atividade
cerebral (ainda que mínima).
Porém
jogar não é apenas divertido. É também
instrutivo e de uma forma (além das óbvias) que
raramente nos damos conta: o aprendizado do fazer. Explico melhor...
No
início da década de 80 aparecem no mercado brasileiro
os primeiros computadores pessoais. Tornaram a partir daí
produtos de consumo doméstico e passíveis de serem
adquiridos numa visita a um grande magazine, loja de som ou mesmo
em lojas de departamento. Lojas especializadas, nem pensar.
O
hardware antecede em muito tempo o surgimento do software comercial.
Você podia comprar um entre vários modelos de computador,
mas não existia um único programa para ser adquirido.
Nem mesmo como forma alternativa ou pirata. O amigo camarada que
grava zilhões de jogos em CDs? Nem tinha nascido ainda.
Neste
contexto, a única saída plausível para o
usuário era fazer ele mesmo os seus programas e para isso
tornava-se imprescindível uma leitura atenta do manual
do equipamento que, na esmagadora maioria dos casos, não
passava de um tutorial sobre programação. Justifica-se
portanto o estrondoso sucesso que as publicações
especializadas em informática tiveram nesta época
e em especial as revistas de computador.
Munidos
de um instrumental mínimo e com muita disposição,
os usuários tornam-se ao longo de algumas seções
de experimentos, sucessos e fracassos, "programadores".
E é claro, uma das modalidades de "programa"
que se pensa fazer, no exato instante em que sentimos ter algum
domínio da técnica, é nada mais nada menos
do que um jogo.
Na
verdade, a programação de jogos é uma grande
mola propulsora que nos leva a evoluir no conhecimento das técnicas,
truques e macetes de programação. Quase todos "programadores"
guardam dentro do seu íntimo aquela vontade irresistível
de fazer um jogo. Por mais simples que ele seja.
Nos
primeiros anos do computador pessoal já era divertido jogar.
Mas era mais divertido ainda fazer os jogos. O entretenimento
não era apenas o jogo mas fazer o jogo. Buscar o conhecimento
necessário e resolver as questões técnicas
de forma a obter o resultado pretendido.
A finalidade quase sempre era trocar jogos entre usuários,
publicar em revistas, distribuir fitas no colégio para
os amigos, etc. O prazer de fazer era tão ou mais intenso
que o prazer de descobrir e adquirir o conhecimento. Reconhecer-se
capaz de criar algo é uma das poucas sensações
humanas que não pode ser descrita em palavras.
Com
a evolução das máquinas, das técnicas,
dos recursos e dos jogos, chegamos aos dias atuais a um resultado
onde coisas impensadas há 10 anos atrás, não
passam de um mero detalhe. Cores, sons, imagens e mais uma infinita
gama de recursos técnicos à nossa disposição
nos cativam de forma quase que hipnótica. A complexidade
das estruturas funcionais e da programação já
não nos permite desvendar os segredos e mistérios
da criação, num único fim de semana. Será
mesmo?
A
criação do jogo comercial, aquele que deslumbra
nossa imaginação antes mesmo de ser tirado da caixa
ou baixado pela internet, realmente está longe do alcance
dos mortais comuns (usuários de um modo geral). Hoje apenas
profissionais formados e com dedicação integral,
reunidos em empresas de desenvolvimento e produção
de jogos, podem dar conta deste tipo de demanda.
Mas
aquele jogo simples, aquele que nos dá prazer de ser feito,
justamente porque nos divertimos fazendo-o, ou simplesmente provando
o gosto da criação, este ainda está a uma
distância não apenas possível, mas facilmente
alcançável.
O
convite que faço a você leitor é no sentido
de aprender, descobrir formas e técnicas e desvendar os
mistérios intrincados por trás de um jogo. Do seu
funcionamento e da sua aparência. Divertir-se fazendo e
aprendendo, porque conhecimento nunca é demais.
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